quarta-feira, 13 de maio de 2015

Alvorecer noturno, ou, Fogos fátuos

Sim, é o sol, aqui. Logo aqui, batendo dentro do coração, combustível comburente, flama, me inchama, chama, dá um grito e pra fora estende os braços. Fera anímica, animada, aninhada em meu coração, traça, esta fera! Traça, pequena fera, de pequenas garras, tua existência neste chão, minhas veias em flama, minha imaginação em palavras correndo como águas neste rio quente, rio escaldante que evapora para tornar-se nuvens, movimenta o ar e tem coragem de correr com o vento!
Selvagem, elogio-te, que sublime é para mim que andas ao lado do vento, tu corres, tu queima-o, queima-se, expande-se eternamente, e como é sublime que o vento te carregue e apadrinhe, como fogo fátuo que anda a correr-voar no ar.
Sensível, pequenino, fogo, tu queima as palavras cravadas na madeira, torna-as ar. Da pedra orgânica, vibras e faz o crispado som, rugido ferino, da fogueira em nossos ouvidos, quem diria que tornas isto palavra! Quem diria! que dia. Que dia e está de noite.
Meus olhos fulguram com teu calor, inflamam-se, derretem os seus gelos, de minha alma, fogo que tornou minha retina aquecida, e o fátuo lentamente adentra este mar de retina, e vai se aprofundando em maresia, até ir muito lá no fundo, percorrendo sua sina senda caminho fantástico até o núcleo da terra.
Onde lá faz calor, e lá os outros fogos emitem muito mais, quando se reúnem em oceano brilhoso amarelo avermelhado.
Fogos fátuos escondidos de dentro da terra, fazem festa.

domingo, 12 de abril de 2015

É mais escuro, ainda.

O mundo, brilhando no beija-flor, convertia-se em vida, que logo se esvoaçava. O beija-flor subiu, ao seu ritmo rápido, às copas das árvores, beijou com intimidade. O mundo, esperava pelo beija-flor, abarcando-o com suas árvores, encantando-o com seus ventos, e ludibriando-lhe com o seu céu. Entorpecia o beija-flor com sumo de vida, e seu coração, mais nervoso, passava a correr nele o sangue da floresta. As memórias dos seres reviviam e se emocionavam, orgânicas. Estamos vivos, estamos vivos, como que os espíritos dissessem. O beija flor via o florescer de um sol dentro dele, um mundo que lhe queimava manso, um fulgurar festivo de espíritos de animais e cores, um reunir em roda frente à um mastro luzente, à frente de uma porta de Caverna. Seres menores, de cabeças achatadas, descoloridos, pintavam formas e as coloriam, e com um sopro, ou corrente de ar, se esbravejavam e rugiam, Leões apareciam, rugiam, desapareciam. Formas e desformas, o multicor do beija-flor jazia na neblina das nuvens, pintadas de umidade azul, que à cada batida do coração, reagiam multicor comò coração.
Beija-flor fechou os olhos, e os abriu, e os fechou e os abriu, e os fechou e os abriu e os fechou e os abriu, e o fechou e os abriu, e o fechou e os abriu... eles lá continuavam. tudo. os fechou e os abriu... eles sumiram, desapareceram... e os piscou, e todos se bagunçavam diante dele, abraçados, lutando. as cores que via eram animadas enquanto únicas, e logo que duas se chocavam, uma fumaça era absorvida pelo negrume do céu, e o restante se transformava em um nova cor. um novo animal.
Era dia de festa. E o Beija-Flor, decidido a continuar a viver, juntou-se à eles em corpo e espírito. E tornou-se vários.

***

e Não voltou. Quis eu piscar os olhos e o fiz.
E não voltou.
Fechei os olhos e os abri.
O Beija Flor brilhava, azulado preto e branco, iluminado pela Lua, estando a voar pós festa...